sábado, 31 de dezembro de 2016

Quantos nós existem em mim



Eu que não "conjulgo" o verbo


Fácil o "senhô" dizer
O que já experimentou da dor?

Da raiva?
Angústia?
Ou solidão?


Tu que chega e tem os pratos feitos
O abraço de tua tia
O calor da família
Tem um teto onde não te falta nada

Como pode falar da dor
Se apenas conheceu o amor?

Nunca andou imundo em farrapos
Não passou um dia de fome
Não tirou do lixo o sustento
Não andou arrasto pelas ruas,
Pelos becos

O que você sabe da raiva?
Tu que pode dar-te ao luxo de sentar e escrever
Sentar e desenhar
Sentar e estudar

O que sabe da angústia?
Eu que passei fome,
Andei descalço,
Gritei ao mundo surdo
Berrei socorro
Quebrei a cara
Chorei sozinho
Cheguei ao cansaço
Sofri as dores

(sei o que é dor)
Eu que sei respeitar o tempo
Que senti cada segundo da dor
Do estômago vazio
Da carne fraca,
Da perna bamba

(eu bem sei o que é solidão)
Eu descobri a força de ter que pegar a enxada
Plantar a semente
Colher o sustento

(eu sou minha própria mãe e meu próprio pai, mas nunca fui filho)
Tenho uma vida confinada,
Fadada,
Exausta,
Acabada no cansaço

Tu que vai a farra
Que anda em bons trajes
Que canta
Que dorme
Que sabe "dotô"?

Me acha fraco
Me acha nojo
Me acha infantil

Mas o "senhô" não sabe quem sou
Fala por onde devo andar
Sendo que já andei nos quatro cantos
E sozinho aprendi a caminhar

Então "dotô" 
Não venha me falar verdades 
Ditar maturidades
Você não sabe nada
Nada de humanidades

Não entendo das leis
Mas sei o que é guerra
E como é ser forte.



Keroline Sam Martins Labes
Pelo direito a dignidade humana e a igualdade social.

2 comentários:

  1. Pelo que eu entendi esta poesia se refere ao caipira, ao homem rural, embora se encaixa em alguns momentos a toda classe que de fato luta mais e é mais resistente que é a classe mais pobre, ou características de classes que sofrem mais. Gostei ela é uma crítica ao nosso estado atual da sociedade e talvez de outras épocas.

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    1. Obrigada por participar Joarez.
      Sim foi uma critica XD

      vou olhar teu blog ;)

      ANALISE DE "QUANTOS NÓS EXISTEM EM MIM".

      https://agataesmero.blogspot.com.br/2016/12/quantos-nos-existem-em-mim_42.html?showComment=1483391789270#c2842660430112976208

      Aqui demonstro que existe um certo sistema e uma falsa democracia em nosso país. Uma criticaLEMBRANDO GRANCHI (mostrando que ainda hoje se controla as massas pelo conhecimento, conhecimento distorcido pela TV, pelos jornais e em muitos livros, haja vista que muita literatura nao é vendida aqui no Brasil por ter um certo controle).
      Mostrei que o capitalismo tende a ditar onde cada qual deve estar. Que os detentores do saber desejam controlar o povo menos favorecido “dizer onde devo andar” justamente aproveitando-se da falta de conhecimento de muitos trabalhadores.
      Escrevi em forma de protesto, protesto a esse CAPITALISMO onde há os controlados e controladores.

      Breve analise:
      Essa poesia foi escrita em forma de dialogo onde me expresso sendo uma pessoa humilde que fala por todas as pessoas que passam fome e sofrem. Interpreto o rapaz que trabalha com material reciclável,o rapaz da roça e o andarilho. Falo por todos que são explorados nessa terra tão rica como o Brasil.

      “Quantos nós existem em mim” aqui quis dizer que falo por varias pessoas.
      “Eu que não "conjulgo" o verbo” aqui quis interpretar uma pessoa que não sabe escrever.
      Expressei que pessoas menos favorecidas financeiramente, leigos e humildes, podem ate desconhecer de muitas coisas sobre estruturalismo do país ou ate mesmo nem saber escrever, porem o simplista pode ter maior sabedoria do que muitos doutores.

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